segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Futuro e desafios para a Igreja

Numa entrevista ao diário francês “La Croix”, Remi Brague, filósofo, crente e católico, co-fundador da edição francesa da revista “Communio” deixou uma reflexão interessante sobre o futuro da Igreja e seus desafios. Para o pensador, não devemos preocupar-nos com a crise pela qual está a passar o cristianismo, e muito menos lamentar-se, mas rezar e formar-se…uma entrevista interessante.

Quais as condições essenciais para um futuro da Igreja?
Continuar a falar.
Estou cada vez mais sensível à passagem onde Deus diz a Ezequiel: “Se as pessoas morrem nos seus pecados sem que tu as tenhas avisado, é a ti a quem pedirei contas; se falas e elas não te escutam, pior para elas.”
A Igreja não pode falar senão desta forma, e ela o faz desde sempre.
Ela está neste mundo e não é deste mundo, nunca totalmente em fase com o seu tempo, que os seus santos sempre contestaram. À maneira deles, discretamente mas com eficácia.

Nesta perspectiva, qual seria a urgência?
Simplesmente aquilo que permite ao cristianismo de permanecer aquilo que ele é, ser visto e entendido por aqueles que estão fora; isto é, o dogma, evidentemente, para não trair a mensagem dos Apóstolos; a caridade, mostrar ao próximo que Deus o ama, mas também a liturgia: sonho com cerimónias a suscitar o respeito, pela profundeza das homílias, a beleza dos cânticos; e não o desprezo, com um sermão “simpático” e “canções de missa” sem qualidade.

Como viver a crise que atravessa a Igreja?
Não se preocupar muito, não fazer contas, muito menos lamentar-se. Antes, rezar e formar-se. Ler e meditar a Bíblia, os grandes escritores e pensadores cristãos. Encontra-se aí tesouros inesgotáveis. Dante, por exemplo.

A perspectiva de tornar-se minoritário é uma oportunidade?
Sim, se a tomarmos para levar a nossa fé mais a sério.
Senão, seria um facto sociológico, nada mais.
Detesto quando se diz: “Perde-se em quantidade, mas ganha-se em qualidade.”
Quem diz isso? Não são os não-cristãos. Se pensassem assim, tornar-se-iam rapidamente cristãos. São cristãos que dizem: “Sim, nós, somos menos numerosos, mas somos melhores.” Isto é muito pouco humilde…e nada pior para fomentar uma mentalidade de uma ardente arca de Noé, navegando num oceano de desprezo…
Tomar a sua fé a sério, é simplesmente aprender a ver a realidade em função daquilo em que se acredita. Se acreditamos que qualquer homem é “irmão pelo qual Cristo morreu”, objecto, por parte de Deus, de um amor que foi até ao sacrifício supremo de Cristo, isso muda o olhar e a acção: qualquer homem torna-se digno de respeito infinito.

O senhor é daqueles que acham que o futuro dos cristãos está ligado ao diálogo com outras religiões?
Um diálogo que significa entender-se sobre fórmulas onde os dois lados usam as mesmas palavras num sentido oposto, não tem futuro.
Um diálogo sem ambiguidades, que não evita as coisas que aborrecem, seria uma óptima coisa.
É necessário promover este diálogo autêntico, aprender a conhecer o outro, entendê-lo como ele é e não como gostaríamos que ele fosse.
Mas querer o diálogo “par garantir o futuro”, é colocar algo de muito honrável ao serviço de um fim que o é pouco. Se dialogar significa negociar para ter um lugar não muito mau, isto é, para deixar desaparecer lentamente, então são os cristãos que não têm futuro.

Poucas certezas então. Que atitude você aconselha para enfrentar este futuro?
Qualquer análise é parcial e pode enganar-se. Qualquer previsão permanece incerta. Quantos foram ridicularizados pelos factos! Recomendaria sobretudo de não escolher o que se deve fazer hoje a partir do dia de amanhã que se imagina.

Afinal, sabemos o que é o cristianismo? Não nos enganaremos no seu futuro?
Eis a pergunta pela qual deveríamos ter começado!
Tenho a impressão que sabemos cada vez menos.
Olha o que é publicado e vendido: não se toleraria uma tal incompetência com outra doutrina.
O que o cristianismo é, aprendemo-lo só desde há 2000 anos.
Não é nada em comparação com o percurso do género humana no tempo.
Estou convencido que o cristianismo tem muito para nos ensinar, e que ainda não vemos.

1 comentário:

Maria João disse...

Acho que isto tem a ver com o que sinto há algum tempo... Como podes ler no meu blog...

beijos em Cristo