quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eis o ouro...

«Os Magos oferecem ouro, incenso e mirra.
O ouro convinha a um rei, o incenso era apresentado a Deus em sacrifício, e é com a mirra, que os corpos dos mortos eram embalsamados.
Os Magos proclamam portanto, com os seus presentes simbólicos, quem é Aquele que eles adoram.
Eis o ouro, pois é um rei; eis o incenso, pois é um Deus; eis a mirra, pois é um mortal.
Existem hereges que acreditam na sua divindade, sem acreditar que o seu reinado se estende por toda a parte. Oferecem-Lhe o incenso, mas não querem dar-Lhe também a ouro.
Há outros que reconhecem a seu realeza, mas negam a sua divindade. Oferecem-Lhe o ouro, mas recusam dar-Lhe o incenso.
Outros confessam tanto a sua divindade como a sua realeza, mas negam que Ele assumiu a carne mortal. Oferecem-Lhe ouro e incenso, mas não querem dar-Lhe a mirra, símbolo da condição mortal que Ele assumiu.



Por nós, ofertamos o ouro ao Senhor que vem de nascer, afirmando que Ele reina em toda parte; oferecemos-Lhe o incenso, reconhecendo que Aquele que veio no tempo é Deus antes de todos os tempos; oferecemos-Lhe a mirra, confessando que Aquele que acreditamos inabalável na sua divindade, também se tornou mortal, assumindo a nossa carne.»

São Gregório Magno, Homilia para a Epifania

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Por este ano que passou...


Nós Vos louvamos, ó Deus,
nós Vos bendizemos, Senhor.
Toda a terra Vos adora,
Pai eterno e omnipotente.


Os Anjos, os Céus e todas as Potestades,
os Querubins e os Serafins Vos aclamam sem cessar:
Santo, Santo, Santo,
Senhor Deus do Universo,
o céu e a terra proclamam a vossa glória.


O coro glorioso dos Apóstolos,
a falange venerável dos Profetas,
o exército resplandecente dos Mártires
cantam os vossos louvores.
A santa Igreja anuncia
por toda a terra a glória do vosso nome:
Deus de infinita majestade,
Pai, Filho e Espírito Santo.


Senhor Jesus Cristo,
Rei da glória, Filho do Eterno Pai,
para salvar o homem,
tomastes a condição humana
no seio da Virgem Maria.


Vós despedaçastes as cadeias da morte
e abristes as portas do céu.
Vós estais sentado à direita de Deus,
na glória do Pai, e de novo haveis de vir
para julgar os vivos e os mortos.


Socorrei os vossos servos, Senhor,
que remistes com vosso Sangue precioso;
e recebei-os na luz da glória,
na assembleia dos vossos Santos.


Salvai o vosso povo, Senhor,
e abençoai a vossa herança;
sede o seu pastor e guia
através dos tempos
e conduzi-o às fontes da vida eterna.
Nós Vos bendiremos
todos os dias da nossa vida
e louvaremos para sempre o vosso nome.


Dignai-Vos, Senhor, neste dia,
livrar-nos do pecado.
Tende piedade de nós,
Senhor, tende piedade de nós.
Desça sobre nós a vossa misericórdia,
porque em Vós esperamos.
Em Vós espero, meu Deus,
não serei confundido eternamente.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Vinde e celebremos esta festa

«Hoje, Aquele que nasceu do Pai de maneira inefável nasceu da Virgem, por amor de mim, de uma forma inexplicável e admirável.(…)



Vinde e celebremos esta festa; vinde e que seja para nós um dia solene. Que a forma de celebrar esta festa seja extraordinária, porque a história deste nascimento é extraordinária. Hoje, o antigo vínculo é quebrado, o diabo é confundido, os demónios fugiram, a morte é destruída, o paraíso abriu-se, a maldição é extinta, o pecado foi banido, o erro foi derrotado, a verdade voltou, e a palavra de piedade é comunicada e espalhada por toda a parte. A vida do céu é estabelecida na terra, os anjos comunicam com os homens, os homens não temem em conversar com anjos. E porquê? Porque um Deus veio à terra e um homem no céu, e assim tudo se uniu e se ligou. Ele veio à terra, Ele que está todo inteiro no céu, e estando todo inteiro no céu, está todo inteiro na terra. Sendo Deus, Ele fez-se homem, sem renunciar à sua divindade. Sendo o Verbo imutável, Ele encarnou: encarnou para habitar entre nós.»


São João Crisóstomo

Um Santo Natal a todos!


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Procurar viver aquilo que o presépio representa

«Para mim é motivo de grande júbilo saber que nas vossas famílias se conserva a tradição de montar o presépio. Porém, ainda que importante, repetir este gesto tradicional não é suficiente. É necessário procurar viver, na realidade do dia-a-dia, aquilo que o presépio representa, isto é, o amor de Cristo, a sua humildade, sua pobreza. Foi o que fez São Francisco de Assis em Greccio: representou ao vivo a cena da Natividade, para assim poder contemplá-la e adorá-la, mas principalmente para que pudesse saber a melhor forma de pôr em prática a mensagem do Filho de Deus, que por nosso amor despojou-se de tudo e se fez uma pequena criança.


O presépio é uma escola de vida, do qual podemos aprender o segredo da verdadeira felicidade. Esta não consiste em ter muita coisa, mas em sentir-se amados pelo Senhor, em dar-se aos outros e no querer bem. Olhemos para o presépio: Nossa Senhora e São José não parecem uma família de muita sorte; tiveram o seu primeiro filho no meio de grandes dificuldades; e, no entanto, estão cheios de alegria interior, porque se amam, se ajudam, e, principalmente, porque estão certos de que Deus está a operar na sua história, o Qual se fez presente no pequeno Jesus. E quanto aos pastores? Que motivos teriam para se alegrarem? Aquele recém-nascido não mudará sua condição de pobreza e marginalização. Mas a fé os ajuda a reconhecer no “menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”, o “sinal” do cumprimento das promessas de Deus para todos os homens “que são do seu agrado” (Lc 2,12.14), inclusive para eles!

É nisto, caros amigos, que consiste a verdadeira felicidade: sentir que a nossa existência pessoal e comunitária é visitada e preenchida por um grande mistério, o mistério do amor de Deus. Para sermos felizes, necessitamos não apenas de coisas, mas também de amor e de verdade: necessitamos de um Deus próximo, que aqueça o nosso coração, que responda aos nossos anseios mais profundos. Esse Deus se manifestou em Jesus, nascido da Virgem Maria. Por isso, aquele Menino, que colocamos na cabana ou na gruta, é o centro de tudo, é o coração do mundo. Oremos para que cada homem, como fez a Virgem Maria, possa acolher, como centro da própria vida, o Deus que se fez Menino, fonte da verdadeira felicidade.»



Bento XVI, Ângelus 13/12/2009.

No 3º Domingo do Advento,
dando continuidade a uma bela tradição,
as crianças de Roma trazem ao Papa,
pequenas estátuas do Menino Jesus para serem benzidas.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Toda a nossa existência

«Toda a nossa existência, todo o nosso ser deve proclamar o Evangelho aos quatro ventos; toda a nossa pessoa deve respirar Jesus, todos os nossos actos, toda a nossa vida devem proclamar que estamos com Jesus, devem mostrar a imagem da vida evangélica; todo o nosso ser deve ser uma pregação viva, um reflexo de Jesus, um perfume de Jesus, alguma coisa que proclame Jesus, que faça ver Jesus, que brilhe como uma imagem de Jesus.»

«As pessoas afastadas de Jesus devem, sem livros e sem palavras, conhecer o Evangelho vendo a minha vida…Vendo-me, deve ver-se quem é Jesus.»


Beato Carlos de Foucauld

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Mártir de Cristo Rei

Miguel Agostinho Pró Juarez nasce em 1891 em Guadalupe, no México, numa família abastada e profundamente cristã.
O pequeno 'Miguelito', como é chamado, mostra ser um rapaz muito alegre e brincalhão. Crescido, ele abandona durante algum tempo a prática religiosa, mas volta a ela, movido pela entrada da sua irmã num convento … é o ponto de partida da sua vocação.
Aos 20 anos, junta-se aos jesuítas e faz os seus primeiros votos a 15 de Agosto de 1913. Atormentados pelo governo mexicano anti-clerical, os jesuítas em formação exilam-se para os Estados Unidos. Miguel irá também para Espanha, Nicarágua, e Bélgica, onde completará a sua formação na casa dos jesuítas franceses, também exilado pelo seu governo. Apesar da sua débil saúde e contínuas dores no estômago, o jovem jesuíta se distingue pela sua alegria constante e expansiva. É ordenado sacerdote com 34 anos na cidade de Amiens (França), em Agosto de 1925. Ele que é de uma família rica, podendo até suceder a seu pai, preferiu os pobres, em particular, os mineiros belgas e franceses, interessando-se pela pastoral do trabalho e a JOC (Juventude Operária Católica).
Apesar da escalada de perseguições no México com a chegada ao poder do General Calles, os superiores jesuitas pensam que o ar do país poderia ser benéfico à saúde do Padre Miguel. Ele regressa ao país natal em 1926, poucos dias depois de um decreto proibir a presença de sacerdotes. Na Cidade do México, durante mais de um ano, ele exerce o seu ministério clandestinamente. As igrejas estão fechadas e o culto público proibido. Mas o Padre Miguel Pró tem a arte de agir sem ser apanhado. Faz-se chamar "Cocol '(nome de um pão doce que ele gostava na sua infância), usa todo o tipo de disfarces, como vestir-se de agente da polícia para visitar as prisões. Um dia, quando a casa onde ele se escondia é cercada, ele finge ser inspector de polícia, queixando-se a outro agente de não se empenhar o suficiente para apanhar “aquele maldito Pró”, prometendo intensificar a investigação. Outra vez, apertado pela presença policial, ele agarra a mão de uma jovem mulher pedindo: "Ajuda-me, sou um padre”, e assim, o pseudo casal passa despercebido frente às forças da lei.
Nesta vida de proscrito, a Eucaristia é a força que anima o Padre Pró, e para alimentar o seu rebanho, ele organiza "estações eucarísticas”: missas celebradas todos os dias numa casa diferente; arrisca-se ainda mais em ser preso, adicionando ao seu ministério espiritual secreto, o serviço caritativo aos pobres.
Mas um dia, ele é apanhado, erradamente suspeito de conspirar com o seu irmão, também sacerdote, de um ataque contra o ex-presidente, o General Obregon. Todos sabem da sua inocência, mas o Padre Miguel Pró é sumariamente condenado… o General Calles não tolera a actividade deste sacerdote tão esperto.
A 23 de Novembro de 1927, Pró é levado ao lugar de execução.
Lá, depois de rezar e recusar ser vendado, ele levanta a voz, poderosa, perdoando a todos e clamando a Deus a sua inocência. Em seguida, ele abre os braços em cruz, segurando um crucifixo numa mão e um rosário na outra, e antes de ser fuzilado, ele grita: "Viva Cristo Rei!"
Para o seu funeral, qualquer manifestação pública é proibida, mas mais de 20 mil pessoas seguem o cortejo às janelas ou em silêncio nas ruas. Entre os sacerdotes mártires deste período, o Padre Miguel Pró é o mais conhecido.
Ele é beatificado pelo Papa João Paulo II a 25 de Agosto de 1988



Fotos do Martírio do Beato Miguel Pró

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A via da beleza

Admito que sou um interessado pela arte, e acredito que através dela o homem pode exprimir a beleza de Deus e transmitir algo do mistério divino. O passado e o presente artístico da humanidade são provas disso, em todos os campos: arquitectura, pintura, escultura, música, literatura….
Infelizmente, parece que alguma arte sacra moderna segue as pisadas da arte contemporânea…esquece-se da beleza e da mensagem… quanto mais “a coisa se parece com nada”… mais genial é.

«As obras artísticas nascidas na Europa nos séculos passados são incompreensíveis se não levarmos em conta a alma religiosa que as inspirou. Um artista, que sempre demonstrou o encontro entre a estética e a fé, Marc Chagall, escreveu que ‘durante séculos os pintores mergulharam o seu pincel neste alfabeto colorido que é a Bíblia’.
Quando a fé, celebrada de modo particular na liturgia, encontra a arte, cria-se uma profunda harmonia, porque ambas podem e querem falar de Deus, tornando visível o Invisível.
Gostaria partilhar isso no “Encontro com os artistas” a 21 de Novembro, reiterando a proposta de amizade entre a espiritualidade cristã e a arte, desejada pelos meus venerados predecessores, especialmente pelos servos de Deus Paulo VI e João Paulo II. (…)
A via da beleza, é um caminho fascinante e privilegiado para se aproximar do mistério de Deus. Qual é a beleza que escritores, poetas, músicos, artistas, contemplam e traduzem na sua linguagem, senão um reflexo do esplendor do Verbo eterno feito carne?»


Bento XVI, Audiência 18/11/2009



«Um grande artista americano me disse recentemente: ‘Os artistas contemporâneos excluiram duas coisas: a beleza e a mensagem’. É esta visão contemporânea que queremos considerar, como ela é. Sobre este ponto, podemos realmente falar de divórcio com a Igreja. Pois a arte contemporânea parece ter, em grande parte, explorado todas as possibilidades de desconstrução, de niilismo, para nos levar a constatar a inconsistência do ser, provando que nada vale nada, provocando sobre a falta de sentido da nossa realidade. (...)
Acreditamos na possibilidade de um encontro entre fé e arte, desde que a arte saia desta impotência provocadora. Do mesmo modo, a Igreja não deve contentar-se numa recuperação desajeitada de estilos antigos e produções artesanais, sem ambição. Ela deve aceitar o confronto com novas gramáticas, novos modos de expressão. (...)
A maioria dos grandes arquitectos já construíram uma igreja. Podem ser citados: Renzo Piano (Igreja do Padre Pio, em San Giovanni Rotondo, Itália), Richard Meyer (Igreja de Tor Tre Teste, perto de Roma), Massimiliano Fuksas (Milão), Tadao Ando (que projetou várias igrejas no Japão), etc. E não deve ser esquecido Le Corbusier em Ronchamp.
Todos trabalharam para moldar o espaço na sua nudez, com jogos de luz, intimidade... Mas com uma deficiência: o distanciamento das outras expressões artísticas. Porque, se uma igreja contemporânea é muitas vezes um belo interior, descobrimos que o arquitecto nem sempre se preocupou com os objectos de culto. Assim, vemos altares, estátuas, móveis díspares, mal pensados naquele espaço, no entanto magnífico.
Pelo contrário, um Francesco Borromini, rival de Bernini, aqui em Roma, proponha com as suas igrejas um conjunto coerente e harmonioso. Este é um desafio para hoje.»

Dom Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.
Pintura: "O Sonho de José", Arcabas (Jean-Marie Pirot )