Não sei se já vos falei da minha predilecção pela neve?...
«Não sei se já vos falei da minha predilecção pela neve?... Pequenina, a sua brancura encantava-me; um dos maiores prazeres era passear sob os flocos níveos. Donde me vinha este gosto pela neve?... Talvez de que sendo uma florzinha de Inverno*, o primeiro adorno com que os meus olhos de criança viram a natureza revestida tinha sido o seu alvo branco… Enfim, sempre desejara que no dia de tomada de hábito a natureza estivesse como eu adornada de branco. Na véspera deste belo dia olhava melancolicamente o céu cinzento donde se escapava de tempos a tempos uma chuva miúda e a temperatura estava tão amena que eu perdera a esperança da neve. Na manhã seguinte, o céu não tinha mudado; contudo a festa foi maravilhosa, e a mais bela. (…)
No fim da cerimónia (…) depois de ter beijado pela última vez o meu Rei querido**, voltei para a clausura, a primeira coisa que notei sob o claustro foi o “meu menino Jesus rosa” sorrindo-me por entre flores e luzes e a seguir o meu olhar dirigiu-se para os flocos de neve…o jardim interior estava branco como eu. Que grande delicadeza de Jesus! Vindo ao encontro dos desejos da sua noivazinha, apresentava-lhe neve… Neve, qual será o mortal, por mais poderoso que seja, que possa fazê-la cair do Céu para presentear a sua amada?... Talvez as pessoas do mundo se fizessem esta pergunta, o que é certo é que a neve da minha tomada de hábito lhes pareceu um pequeno milagre e que toda a cidade se admirou com ela. Descobriu-se que eu tinha o estranho gosto de amar a neve… Tanto melhor! Isso fez sobressair ainda mais a incompreensível condescendência do esposo das virgens… d’Aquele que ama com tanta ternura os Lírios brancos como a NEVE!»
Santa Teresa do Menino Jesus, História de uma alma
* Teresa nasceu a 2 de Janeiro de 1873, e depois de entrar no Carmelo de Lisieux, tomou o hábito a 10 de Janeiro de 1889.
** o Pai da Teresinha: Beato Luís Martin
Foto: A neve de ontem na laranjeira do meu quintal
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