terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Versus ad Orientem

Desde a nomeação de um novo cerimonário, Monsenhor Guido Marini, as celebrações em Roma têm cada vez mais elementos tradicionais litúrgicos pré-conciliares. Tronos, candelabros, crucifixos, paramentos de outros tempos voltaram nas celebrações papais. Atitudes, colocação dos celebrantes e acólitos também recordam um certo passado da Igreja.
No último domingo, na Missa da Solenidade do Baptismo do Senhor que ocorreu na Capela Sixtina, foi usado o altar encostado à parede do fundo do edifício. Por isso, o Santo Padre, que seguia o Missal de Paul VI (o actual), celebrou “em alguns momentos, de costas para os fiéis, com o olhar voltado para a Cruz, orientando assim a atitude e disposição de toda a assembleia”.
Algo de pouco habitual… e que não vai contra o Concílio Vaticano II, uma vez que os textos conciliares nunca fazem menção de altar voltado para o povo. Também a reforma litúrgica de Paulo VI não mudou a posição do sacerdote durante a Missa mas permitiu celebrar o Santo Sacrifício versus ad populum, virada para o povo.


Alguns analistas comentam esta escolha de Bento XVI como um desejo de mostrar que o Concílio Vaticano II e a Liturgia renovada não se inscrevem na ruptura mas na continuidade da Tradição litúrgica. Assim, para estes, a introdução de elementos da Missa Tridentina (que nunca foi revogada pelos Padres Conciliares) na Missa segundo o Missal de Paul VI, ajudariam a marcar melhor o carácter sagrado da Eucaristia e a evitar abusos nas celebrações, desejos e preocupações já referidos pelo Santo Padre na exortação apostólica “Sacramento da caridade”.
Missa de costas para o povo ou Missa versus ad Orientem, voltada para o Oriente?
Prefiro a segunda terminologia, pelo significado cristológico (Cristo =Oriente, Sol nascente).
Nos nossos dias, já não será bem assim por causa da construção das igrejas, cujo altar já não está obrigatoriamente dirigido para Leste.
Destas escolhas litúrgicas do Santo Padre, como o “Motu proprio” que liberaliza o Rito Tridentino, o mais difícil para mim é mesmo distanciá-los daqueles que defendem a superioridade da Missa de São Pio V, condenam Vaticano II e defendem o rosto de uma Igreja majestosa e poderosa. Por isso, ao princípio, fiquei um pouco perplexo com as mudanças papais, mas procurei aprofundar o tema e, realmente, não há nada de polémico, como fiéis de extremos (tradicionalistas e progressistas) o desejariam.
Mas a grande questão litúrgica é a beleza.
O Papa Bento XVI tem razão quando diz que a beleza litúrgica pressupõe arquitectura, textos e música de qualidade para exprimir a fé de uma comunidade… não para dar um espectáculo, mas para criar um clima de oração e transformar a vida.

Mas será para isso necessário ir buscar aos armários paramentos e atitudes de outro tempo, que não tem tanto a ver com a tradição litúrgica mas mais com estilos de época?


Ó Cristo,
Sol nascente do Oriente ,
conduz os fiéis da tua Igreja
à unidade da fé,
na celebração dos teus mistérios divinos.

2 comentários:

Maria João disse...

Tenho algum receio em relação às consequências desta cerimónia. Não pela cerimónia em si. Mas, pela imagem que transmite...

beijos em Cristo

joaquim disse...

Tenho para mim que a sumptuosidade não ajuda à interioridade...

Abraço amigo em Cristo