sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Carta a Deus

Pai, amo-Vos mais do que tudo.
Antes de tudo porque sois Aquele que pode dizer EU SOU.
E tê-lo descoberto nos meus 16 ou 17 anos fez com que, aos 93 anos, disso vivo.
Amo-Vos mais do que tudo porque:
ao homem que, no decorrer da evolução, não deixa de se achar suficiente, dais Jesus, o Verbo, para provar que o homem não é suficiente;
enquanto queremos numerar tudo, dais o inumerável, que se faz mais forte que a dúvida, na hóstia da Eucaristia;
à atmosfera sufocante, substituis o sopro, “spiritus”, do Espírito Santo que nasce da união do Pai e do Verbo que se amam e no qual nos mergulhamos.
Sim, Vós sois o meu amor.
Aguento viver tanto tempo pela minha certeza de que morrer é, que se acredite ou não, um Encontro.
Amo-Vos mais do que tudo.
Sim, mas…para ser um crente credível, é necessário que todos à minha volta saibam que não aceito, que nunca poderia aceitar, a permanência do Mal.
Ó SER, Vós sois Senhor do sustento ou da extinção da existência de tudo o que é.
Apesar de terdes o poder de acabar com ele, como entender que subsista o Mal?
A oração de Jesus não culmina em “livrai-nos do Mal”?
Obrigado, Pai, por me ajudar a recusar aquilo que seria batota, de “crer” como se fosse indiferente à perenidade do Mal, neste mundo e no do fora do tempo.
Acreditando, amando, só posso ser este “crente de qualquer maneira”, isto é, não entendendo.
Demasiados irmãos humanos ficam à beira de Vos amar, desviados pela necessidade desta “qualquer maneira”. Piedade por eles e piedade pelo o Universo.
Pai, espero desde há tanto tempo de viver na vossa total PRESENÇA que é, nunca duvidei, apesar de tudo, AMOR


Abbé Pierre, Outubro 2005


Neste dia em que foi sepultado o Abbé Pierre, porque não meditar esta carta, um dos últimos textos publicados pelo Fundador da Comunidade de Emaús.

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