segunda-feira, 6 de abril de 2009

Medo do diktat da mentalidade predominante

«Pilatos não é um monstro de malvadez. Sabe que este condenado é inocente; procura um modo de O libertar. Mas o seu coração está dividido. E, no fim, faz prevalecer sobre o direito a sua posição, a sua pessoa. Também os homens que gritam e pedem a morte de Jesus não são monstros de malvadez. (…)
Mas naquele momento sofrem a influência da multidão. Gritam porque os outros gritam e como gritam os outros. E, assim, a justiça é espezinhada pela cobardia, pela pusilanimidade, pelo medo do diktat da mentalidade predominante. A voz subtil da consciência é sufocada pelos gritos da multidão. A indecisão, o respeito humano dão força ao mal.

Senhor, fostes condenado à morte porque o medo do olhar alheio sufocou a voz da consciência. E, assim, acontece que, sempre ao longo de toda a história, inocentes sejam maltratados, condenados e mortos. Quantas vezes também nós preferimos o sucesso à verdade, a nossa reputação à justiça. Dai força, na nossa vida, à voz subtil da consciência, à vossa voz.»

Meditação do Cardeal Ratzinger (Bento XVI),
Via-Sacra 2005 em Roma.



Nesta Quaresma, propus-me fazer o exercício da Via-Sacra todos os domingos, e ontem, utilizei as meditações de 2005 do Cardeal Ratzinger para me ajudar na reflexão e na contemplação da caminhada dolorosa de Cristo até ao Calvário.
Recordo que os textos são os da última Via-Sacra presidida por João Paulo II, com aquela imagem bem marcante do Papa Wojtyla na sua capela privada, de costas para a câmara da televisão, segurando um crucifixo. Algumas semanas depois, o Cardeal alemão sucederá ao Papa polaco na cátedra de São Pedro.

Com uma distância de 4 anos, de estação em estação, admirei-me com a actualidade das meditações.
E logo na primeira estação, a de “Jesus condenado por Pilatos”, pensei logo no que vai acontecendo desde há uns meses atrás com a figura do Santo Padre e com a imagem da Igreja.
Portugal não fugiu à regra, certamente com menor intensidade, comparando com outros países europeus, onde alguns políticos, comentadores ou jornalistas procuraram sistematicamente deturpar as palavras de Bento XVI, queixando-se quase do Papa e da Igreja serem afinal “católicos”.
O levantamento da excomunhão dos 4 bispos tradicionalistas confundido com a readmissão dos mesmos no seio da Igreja; a desinformação total sobre o caso da menina de 9 anos que abortou no Brasil; a “história do preservativo” que a sociedade ocidental preferiu aos discursos contra a pobreza ou a corrupção em África; tudo isto serviu para condenar ou diabolizar o actual Papa, que antes de ser eleito não era o preferido da “classe mediática”.
Talvez o Santo Padre poderia ter evitado todas estas confusões, contentando-se em passear no “papamóvel” e fazendo discursos lamechas…mas teria ele cumprido a sua missão?
Contrariamente ao que se pensa muitas vezes, a diabolização de um homem ou de uma causa é raramente a consequência de trapalhadas ou confusões, mas é mais o preço a pagar pela clarividência ou a coragem. Aqueles que se calam ou se subjugam à época ou ao “diktat da mentalidade predominante” certamente não serão diabolizados. Os que fizerem frente é que sim!

Li isto algures e gostei…e neste Semana Santa ainda ganha mais sentido: “O discípulo não é maior que o Mestre (Jo 13, 16). A sua palavra, mesmo afirmada com humildade e amor, ou talvez por ser assim, será muitas vezes recebida com animosidade e violência. É necessário ser às vezes objecto de derisão, de ódio; é necessário não ser sempre entendido.”
É custoso...mas não podemos senão conformar a nossa vida à de Cristo.

Via-Sacra 2005 no site do Vaticano

1 comentário:

Marinilce disse...

Sim, caro irmão.
O discípulo não é maior que o mestre.
Somos por demais perseguidos no dia a dia por causa da Palavra proclamada, pelas ações...
Na realidade as pessoas gostam de ser aplaudidas e de ouvir o que querem.
Quando não são notadas ou são "espetadas" pelo que não querem ouvir, viram-se contra a pessoa ou a situação.
A verdade incomoda.
A radicalidade incomoda e muito.
Tenho sido tão mal compreendida em meus posts.
Mas escrevo o que penso e acredito.
E se alguma vez eu errar, pois isso é próprio de todos nós, sei que Ele me mostrará o caminho certo.
O importante é caminhar, persistir, Pôr a boca no mundo mesmo.
Eu acredito na radicalidade exposta, na raiz levada a sério.

Bela postagem.
Parabéns!