terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A Santa Face

A Basílica de São Pedro em Roma não possui somente a preciosidade que é o túmulo do Chefe dos Apóstolos, como, ao longo dos séculos, enriqueceu o seu tesouro com importantes relíquias, como um pedaço do madeiro da Cruz, trazido de Jerusalém pela imperatriz Santa Helena; um fragmento da lança do centurião que trespassou o lado de Cristo morto; ou o véu da mulher que, no caminho do Calvário, enxugou a Face ensanguentado de Jesus.
Este véu foi apelidado de “verónica”, contracção e latinização da palavra grega: “veron ikon”, isto é, “verdadeira imagem”.
Conta-se que o imperador Tibério tinha ouvido algumas coisas sobre Jesus, que para além da morte, ajuntava discípulos e operava milagres. O governante romano, doente e diante da incapacidade dos médicos em curá-lo, soube da existência de uma imagem milagrosa de Cristo, que pertencia a uma cristã. Mandou-a trazer até ele, ouviu o relato da Paixão de Jesus da boca da mulher, e recuperou a saúde contemplando a “veron ikon”, cujo nome acabou por ser dado à proprietária do véu, que tinha conseguido o milagre.
O véu milagroso permaneceu e ainda está em Roma, mas não está exposto à veneração dos fiéis desde há 50 anos.

A 6 de Janeiro de 1849, na Basílica Vaticana, na ostentação das Relíquias Maiores, a multidão pôde ver que na “verónica”, a imagem pouca nítida do véu tornou-se aos poucos o rosto vivo de Cristo, a Face do Homem das dores descrita pelo profeta Isaías.
Naquela época e naquele dia da Epifania do Senhor aos Magos, os peregrinos não tinham evidentemente máquinas fotográficas ou telemóveis com câmara, para captar esta teofania, esta manifestação de Deus. O único meio de guardar na memória tal acontecimento foi a gravura, e assim, reproduzida a imagem que apareceu no véu, estampas foram distribuídas pelos cónegos da Basílica de São Pedro com um selo de autenticidade.
No centro da França, o Sr. Leão Papin Dupont, conhecido como o “santo homem de Tours”, recebeu do Carmelo da sua cidade uma destas gravuras, e colocou-a na sua sala de estar, que logo se transformou num oratório. Graças físicas e espirituais, alcançadas diante da imagem da Santa Face de Jesus, multiplicaram-se rapidamente, confirmando as revelações que, anos antes, nesta cidade de Tours, uma carmelita, Irmã Maria de São Pedro recebeu do próprio Senhor.
A imagem da Santa Face é reproduzida aos milhares, e em 1885, a arquiconfraria da Santa Face é reconhecida pelo Papa Leão XIII.
A 26 de Abril de 1885, a Família Martin, a família da Santa Teresinha, é inscrita na confraria. Desde então, a estampa da Santa Face de Tours acompanhará a santa, colocada no seu breviário, na sua cela ou nos últimos dias de vida, na cortina da enfermaria.
A devoção à Santa Face era tão importante para Teresinha, que a 10 de Janeiro de 1889, aquando da sua tomada de hábito, ela assinou pela primeira vez um bilhete com o nome de : “Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face”.


Hoje, terça-feira de Carnaval, é também em muitas igrejas a festa da Santa Face de Jesus.
Por isso, em vez de camuflar a nossa face ou olhar para faces mascaradas, porque não nos voltar para aquela Face que nos salva? (cf salmo 8)


Ó Jesus Salvador,
vendo a vossa Santíssima Face desfigurada pela dor,
vendo o vosso Sagrado Coração cheio de amor,
clamo com Santo Agostinho:
«Senhor Jesus,
imprimi no meu coração as vossas Santas Chagas,
para que eu leia ao mesmo tempo a vossa dor e o vosso amor;
a vossa dor, a fim de sofrer por Vós qualquer dor;
o vosso amor, a fim de desprezar por Vós qualquer outro amor!»

Ó Face adorável de Jesus,
inclinada misericordiosamente na Árvore da Cruz,
no dia da Paixão,
para salvação do mundo,
hoje ainda, piedosamente,
inclinai-Vos sobre nós, pobres pecadoes;
voltai para nós um olhar compassivo
e recebei-nos no ósculo da paz.
Ámen.


Venerável Leão Papin Dupont


Foto: reprodução da Santa Face, venerada pelo Sr. Leão Papin Dupont e Santa Teresinha.

Sem comentários: