sábado, 6 de setembro de 2008

"Não podemos senão tomar o penúltimo lugar"

Na verdade, Jesus escolheu o último lugar e ninguém pode apoderar-se deste mesmo lugar.
Na véspera da sua Paixão, no decorrer da última ceia, Jesus levantou-se e lavou os pés aos seus apóstolos, começando por Pedro. Também lavou os pés a Judas. Assim, Ele tomou o lugar do servo, do escravo, do último, ajoelhado diante de cada um.
Na mesa da refeição, o pão e o vinho que se tornarão no Corpo e no Sangue de Jesus…Haverá humilhação mais radical do que colocar o nosso Deus à nossa mercê, exposto às nossas indiferenças, à nossa pouca fé…mas também a todo o amor de que somos capazes?
Jamais alguém amou tanto como Cristo, nem nunca amará…


«Tenho para mim, de procurar ao último dos últimos lugares, para ser tão pequeno como o meu Mestre, para estar com Ele, para caminhar atrás d’Ele, passo a passo, como servo leal, discípulo fiel, porque na sua bondade infinita e incompreensível Ele me permite falar assim, em irmão leal, em esposo fiel…Por isso a minha vida deve ser concebida de modo a ser o último, o mais desprezado dos homens, afim de passá-la com o meu Mestre, o meu Senhor, o meu Irmão, o meu Esposo, que foi “desprezo do povo e opróbrio da terra, um verme e não um homem.” Viver pobre, desprezado, no sofrimento, na solidão, esquecido, para estar na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, Ele que assim viveu toda a sua vida, dando-me este exemplo desde o seu nascimento.»


Beato Carlos de Foucauld, Retiro em Nazaré



“A verdadeira humildade é a arte de se encontrar precisamente no seu lugar” (Evdokimov)
Aprendamos a estar no nosso lugar com alegria e humildade, para além das nossas tarefas ou papéis.
Mais, realizemos o que somos diante de Deus, da qual depende a nossa vida e de quem tudo recebemos. Não se trata de conformar-se a um certo moralismo, mas de alcançar pouco a pouco a humildade de Jesus. Basta olharmos o estábulo de Belém, o lava-pés de Quinta-feira Santa ou a nudez de Cristo crucificado. É nestas cenas que São Francisco de Assis, São Bento José Labre, o Beato Carlos de Foucauld e muitos outros, encontraram o segredo de pobreza e da alegria radiante.
Não acreditemos que esta humildade nos diminua ou nos aniquila. Na verdade, são os humildes e os pequenos que Deus honra e coloca no primeiro lugar. “Quem se humilha será exaltado” diz o Senhor. No frontão da basílica da cidade de Lisieux (França), pode-se ler esta palavra de Cristo... é lá que se venera uma grande mulher e uma grande santa, uma jovem de 24 anos que viveu escondida no Carmelo daquela terra…Santa Teresa do Menino Jesus.
Disto, desta humildade que exalta, fazemos experiência à nossa volta com milhares de vidas escondidas, com mães que não se cansam de amar, com doentes que vivem como podem a sua dor, com celibatários ou com monges que assumem com coragem a solidão, e que, apesar das aparências, têm um papel importantíssimo no mundo.
Bendita humildade, bendito serviço na alegria! Mas “desde que Jesus tomou o último lugar, não podemos senão tomar o penúltimo.” (Padre Huvelin a Carlos de Foucauld)

1 comentário:

Ecclesiae Dei disse...

Que lição...Nessa sociedade egoísta, egocêntrica e repleta de vaidade, busquemos viver a humildade que Ele nos ensinou. Não é fácil, mas vamos nos esforçar. Obrigado pelo texto.