sexta-feira, 20 de julho de 2007

O pai, os filhos, a mãe...a oração

«Ouçam: um pai fazia anos.
Organizaram uma pequena festa em sua casa.
Chega a hora; ele já sabe da festa e diz: “Vamos ver as coisas bonitas que me vão mostrar!”.
Vem primeiro o filho mais novo, a quem ensinaram um poema, que ele decorou. Pobre menino! Lá, na frente do pai, recita o seu poema. “Parabéns!”, diz o pai, “gostei muito, estiveste muito bem, querido”. De cor.

Apresenta-se o segundo filho, que já está na escola. Ah, ele não se contentou em aprender um poemazinho de cor; preparou um pequeno discurso, coisa dele, farinha do seu saco. Mesmo sendo breve, ele faz-se de orador. “Eu nunca poderia acreditar”, diz o pai, “que fosses tão bom para fazer discursos, querido”. O pai está contente: veja só, que belos pensamentos!... Não é uma obra-prima, mas...
Terceira: a menina, a filhinha. Ela preparou simplesmente um ramo de cravos vermelhos. Não diz nada. Vai até o pai, não solta um pio: mas está comovida, fica tão vermelha que não se sabe quem é mais vermelho, ela ou os cravos. E o pai diz: “Dá para ver como gostas de mim; estás tão emocionada”. E nem sequer uma palavra. Mas ele agradece as flores, especialmente porque a vê tão comovida e tão cheia de afeição. Depois vem a mãe, a esposa. Não dá nada. Ela olha para seu marido e ele olha para ela: simplesmente um olhar. São tantas coisas. Aquele olhar traz de volta todo o passado, toda uma vida. O bem, o mal, as alegrias, as dores da família. Não há mais nada.
Estes são os quatro tipos de oração.
O primeiro é a oração vocal: quando rezo o Rosário com atenção, quando rezo o Pai-Nosso, a Ave-Maria; então somos pequenas crianças.
O segundo, o pequeno discurso, é a meditação. Sou eu que penso e faço o meu discurso ao Senhor: belos pensamentos e até sentimentos profundos…fiquemos bem entendidos.
O terceiro, o ramo de cravos, é a oração afectiva. A menina, tão emocionada e tão afectuosa. Aqui não são necessários muitos pensamentos, basta deixar falar o coração. “Meu Deus, eu amo-Te.” Mesmo que alguém faça só cinco minutos de oração afectiva, é melhor do que a meditação.
A quarta, a esposa, é a oração da simplicidade e do simples olhar, como se diz. Ponho-me diante do Senhor, e não digo nada. Olho para ele da maneira como puder. Essa oração parece valer pouco, mas pode ser superior às outras.
Considerem cada uma dessas formas: oração.
A primeira também. Costuma-se dizer: é a de uma criança, está apenas a começar. Mas Santa Teresa (de Ávila) escreveu que a pessoa pode tornar-se santa com a primeira oração. Determinadas pessoas, muito humildes, não aprenderam a meditar, mas rezam bem as orações vocais, com o coração.»

D. Albino Luciani (João Paulo I, o Papa do sorriso)

Sem comentários: