sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Noite escura


Canções da alma que se regozija em ter chegado ao maior estado de perfeição, que é o da união com Deus, pelo caminho da negação espiritual.

Numa noite escura
com ânsias em amores inflamada
Oh, ditosa aventura!
saí sem ser notada,
estando já minha casa sossegada.
Às escuras, mas segura,
Pela secreta escada disfarçada
Oh, ditosa aventura!
às escuras, disfarçada,
estando já minha casa sossegada.
Na noite ditosa,
em segredo, como ninguém me via,
nem eu via coisa alguma,
a não ser aqueloutra luz e guia
aquela que no coração meu ardia.
Ela me guiava
melhor estrela que a luz do meio-dia
aonde me esperava
quem bem eu sabia
no lugar onde ninguém se via
Oh, noite que conduziste!
Oh, noite mais amável que a alvorada!
Oh, noite que uniste
Amado com amada,
No amado a amada tornada!
No meu peito florindo
que inteiro para ele somente se guardava
aí caiu dormindo
e eu o admirava
e a aragem por entre os cedros refrescava
O ar d'ameia
quando pelos seus cabelos as minhas mãos corria
com a sua mão serena
no meu regaço acariciava
e todos os meus sentidos suspendia.
Dei-me ao abandono e perdi-me de mim
declinei meu rosto sobre o Amado;
cessou tudo, e deixei-me…,
deixando o meu cuidado
entre as açucenas abandonado.

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