Admito que sou um interessado pela arte, e acredito que através dela o homem pode exprimir a beleza de Deus e transmitir algo do mistério divino. O passado e o presente artístico da humanidade são provas disso, em todos os campos: arquitectura, pintura, escultura, música, literatura….
Infelizmente, parece que alguma arte sacra moderna segue as pisadas da arte contemporânea…esquece-se da beleza e da mensagem… quanto mais “a coisa se parece com nada”… mais genial é.
«As obras artísticas nascidas na Europa nos séculos passados são incompreensíveis se não levarmos em conta a alma religiosa que as inspirou. Um artista, que sempre demonstrou o encontro entre a estética e a fé, Marc Chagall, escreveu que ‘durante séculos os pintores mergulharam o seu pincel neste alfabeto colorido que é a Bíblia’.
Quando a fé, celebrada de modo particular na liturgia, encontra a arte, cria-se uma profunda harmonia, porque ambas podem e querem falar de Deus, tornando visível o Invisível.
Gostaria partilhar isso no “Encontro com os artistas” a 21 de Novembro, reiterando a proposta de amizade entre a espiritualidade cristã e a arte, desejada pelos meus venerados predecessores, especialmente pelos servos de Deus Paulo VI e João Paulo II. (…)
A via da beleza, é um caminho fascinante e privilegiado para se aproximar do mistério de Deus. Qual é a beleza que escritores, poetas, músicos, artistas, contemplam e traduzem na sua linguagem, senão um reflexo do esplendor do Verbo eterno feito carne?»
Bento XVI, Audiência 18/11/2009
«Um grande artista americano me disse recentemente: ‘Os artistas contemporâneos excluiram duas coisas: a beleza e a mensagem’. É esta visão contemporânea que queremos considerar, como ela é. Sobre este ponto, podemos realmente falar de divórcio com a Igreja. Pois a arte contemporânea parece ter, em grande parte, explorado todas as possibilidades de desconstrução, de niilismo, para nos levar a constatar a inconsistência do ser, provando que nada vale nada, provocando sobre a falta de sentido da nossa realidade. (...)
Acreditamos na possibilidade de um encontro entre fé e arte, desde que a arte saia desta impotência provocadora. Do mesmo modo, a Igreja não deve contentar-se numa recuperação desajeitada de estilos antigos e produções artesanais, sem ambição. Ela deve aceitar o confronto com novas gramáticas, novos modos de expressão. (...)
A maioria dos grandes arquitectos já construíram uma igreja. Podem ser citados: Renzo Piano (Igreja do Padre Pio, em San Giovanni Rotondo, Itália), Richard Meyer (Igreja de Tor Tre Teste, perto de Roma), Massimiliano Fuksas (Milão), Tadao Ando (que projetou várias igrejas no Japão), etc. E não deve ser esquecido Le Corbusier em Ronchamp.
Todos trabalharam para moldar o espaço na sua nudez, com jogos de luz, intimidade... Mas com uma deficiência: o distanciamento das outras expressões artísticas. Porque, se uma igreja contemporânea é muitas vezes um belo interior, descobrimos que o arquitecto nem sempre se preocupou com os objectos de culto. Assim, vemos altares, estátuas, móveis díspares, mal pensados naquele espaço, no entanto magnífico.
Pelo contrário, um Francesco Borromini, rival de Bernini, aqui em Roma, proponha com as suas igrejas um conjunto coerente e harmonioso. Este é um desafio para hoje.»
Dom Gianfranco Ravasi, Presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.
Pintura: "O Sonho de José", Arcabas (Jean-Marie Pirot )